quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Esferográfica - revolucionando a tecnologia da escrita

Dos instrumentos de escrita ainda em uso, o lápis é o mais antigo: teria sido criado, aproximadamente na sua forma atual, em fins do século XVI. No início do século XIX, surgiram as penas de aço, que presas a um corpo de madeira, eram utilizadas para escrever com tinta, método que alguns calígrafos ainda utilizam, mergulhando a pena em um tinteiro. 


Waterman

Esses métodos de escrita tinham alguns inconvenientes: o que era escrito com lápis podia ser apagado facilmente e o uso das penas era pouco prático, pois era necessário transportar a pena, o tinteiro e o mata-borrão, o que além de incômodo às vezes gerava uma sujeira enorme, quando a tinta vazava... Lewis Edson Waterman patenteou em 1884 a caneta tinteiro, resolvendo parte do problema, a portabilidade; mas a secagem da tinta continuou sendo um problema, que em parte ainda persiste, apesar do aperfeiçoamento das tintas. 

Tentando uma solução melhor, o americano John L. Loud registrou em 1888 a patente de um antepassado das atuais esferográficas – o invento foi um fracasso, pois era difícil controlar o fluxo de tinta, o que gerava borrões e sujeira... De qualquer forma, o aparelho acabou sendo utilizado para escrever-se em couro e tecido, mas sem maior sucesso empresarial. 

Biró
O húngaro László Biró (1899-1985) era uma figura e tanto: estudou medicina, mas não terminou o curso. Trabalhou como hipnotizador, piloto de corridas e acabou se dedicando ao jornalismo. No jornal onde trabalhava, ficou intrigado com a diferença de tempos de secagem entre a tinta com que eram impressos os jornais (o papel ficava seco e livre de borrões rapidamente) e a tinta da sua caneta tinteiro (secagem lenta, que borrava muito); Biró juntamente com seu irmão György (um químico), resolveram estudar o assunto. 

A princípio, imaginaram fazer uma caneta tinteiro convencional que usaria o mesmo tipo de tinta utilizada na impressão dos jornais; mas a tinta era muito espessa e não fluía regularmente. Equiparam então, a ponta de um cilindro oco que conteria a tinta com uma pequena esfera que rolava quando a caneta deslizava sobre o papel, distribuindo a tinta. Essa esfera, o bico da caneta e a espessura e viscosidade da tinta deveriam ter características muito específicas, pois era necessário que fosse liberada apenas a quantidade de tinta necessária à escrita, sem que o restante descesse do reservatório para o papel ou tinta secasse no reservatório – era a antepassada próxima das atuais esferográficas.

Em 1938, os irmãos Biró patentearam sua caneta na Hungria, na França e na Suíça, mas com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, para escaparem das perseguições nazistas, fugiram para Paris, depois Madrid e finalmente chegara, à Argentina onde requereram a patente de sua caneta em 10 de junho de 1943. 

Mas para transformar uma boa idéia em um produto é necessário dinheiro. Buscando financiamento conheceram um inglês chamado Harry Martin, que tinha informações que a força aérea inglesa precisava de um instrumento de escrita que funcionasse bem em grandes altitudes – as canetas tinteiro vazavam em grandes altitudes em função da alteração da pressão atmosférica e só escreviam bem na horizontal. Martin conseguiu vender a idéia às forças aéreas inglesa e americana, e no final da guerra, a esferográfica já era utilizada no meio militar. 

Em 1945, quando a esferográfica começou a ser vendida ao público civil, foi uma sensação: no dia de seu lançamento, a Reynolds Pen vendeu oito mil unidades em uma loja de departamentos de Nova Iorque, a um preço de US$ 12,50 (cerca de US$ 150 a preços de hoje) – isso talvez ajude a explicar as filas formadas para as vendas de iPads em seu lançamento – talvez as pessoas tenham uma compulsão que as leva a tentar ser as primeiras a utilizarem uma nova tecnologia. 

A Birome original
Assim nasceu a esferográfica – em muitos países é chamada simplesmente “caneta”, mas na Argentina e Inglaterra, lembrando seus inventores, é chamada “birome” e “biro”, respectivamente. 

Mas o sucesso continuou: em 1944 Biró, licenciou a patente do seu invento para o francês Marcel Bich, que criou na França uma empresa para fabricar canetas esferográficas com o nome BIC. Modificou o design inicial de Biró e implantou um processo de produção em massa que reduziu significativamente o custo das canetas - isso permitiu que elas fossem vendidas a um preço incrivelmente baixo o que ajudou a empresa a crescer e passar a fabricar outros produtos. 

As campeãs de vendas
Até hoje, a BIC continua sendo a líder mundial no ramo das esferográficas. Em 2005 atingiu a marca de 100 bilhões de canetas vendidas. A BIC Cristal, líder de vendas, vende 14 milhões de unidades por dia. 

Mas foi preciso vencer resistências: em nossos tempos de escola primária (anos 50/60), não podíamos utilizar esferográficas, apenas canetas tinteiro. O motivo? Não sabemos! Um detalhe: no Brasil, eram vendidas esferográficas Johann Faber, com corpo de madeira verde escuro. Elas pareciam-se com lápis, e tinham a parte próxima à esfera e o topo vermelhos ou azuis, conforme a tinta que usavam. 


Na virada dos anos 40 para os 50, pessoa de nossa família, militar do Exército, foi ameaçado de prisão case insistisse em usar esferográficas na contabilidade da unidade em que servia; recebeu ordens de continuar usando canetas, daquelas de mergulhar no tinteiro, lançando os créditos em azul e os débitos em vermelho. Por que? Ele morreu sem saber...


Todos os que tentam implementar novidades nas organizações usualmente encontram grandes dificuldades.