segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

AVIAÇÃO: UM REDUTO DE MALUCOS?

A aviação sempre foi um reduto de malucos apaixonados pela tecnologia e pela aventura. Essa é uma verdade, assim como é verdade que sem esses malucos, ainda estaríamos presos à Terra.

O americano Clyde Pangborn era um desses malucos: servira como instrutor de voo na 1ª Guerra Mundial e acabou criando uma pequena fábrica de aviões que quebrou quando a crise de 1929 levou  a economia dos Estados Unidos à Grande Depressão.

O também americano Hugh Herndon Jr. era um playboy amigo de Pangborn e sob o comando deste, resolveu participar da tentativa de quebrar o record de velocidade na volta ao mundo, que pertencia ao dirigivel alemão Graf Zeppelin – em função de atrasos, decidiram abandonar a tentativa quando se aproximavam do Japão, pilotando um avião Bellanca Skyrocket, batizado “Miss Veedol”. Por terem feito nesse vôo filmes e fotografias  que mostravam instalações militares japonesas, foram detidos naquele país; depois de interrogados, foram libertados e informados de que deveriam deixar o Japão e não retornar; se decolassem e voltassem seriam condenados.

Nesse momento, resolveram unir o útil ao agradável: tentariam ganhar o prêmio de US$ 25 mil (hoje cerca de US$ 360 mil) que um jornal japonês prometera a quem fizesse o primeiro voo sem escalas daquele país aos Estados Unidos.

Em 4 de outubro de 1931, o Miss Veedol decolou de Misawa, cidade ao norte de Tóquio, rumo a Seattle, situada a 5.500 milhas de distância – seria um vôo 2 mil milhas mais longo que o de Charles Lindbergh, que fora o primeiro a cruzar o Atlântico voando dos Estados Unidos à França em 1927.

O pequeno avião, com apenas um motor fora modificado para carregar 930 galões de combustível. Mas havia um pequeno problema: se os ventos fossem adversos ou houvesse qualquer contratempo, o combustível não seria suficiente, e pousar no mar naquela época era morte certa. Os pilotos  fizeram cálculos e concluíram que se o avião não tivesse trem de aterrissagem, a melhor aerodinâmica lhes daria uma velocidade adicional de 15 milhas por hora e mais 600 milhas de autonomia – em 1931 não existiam trens de aterrisagem retráteis.

Foi mais ou menos isto que Pangborn fêz

Mas isso não era problema para Pangborn e Hemdon: desenvolveram uma gambiarra que permitiria que, logo depois da decolagem, o trem de aterrisagem fosse ejetado – ao chegarem aos Estados Unidos, pensariam em como levar o Bellanca para o solo.

Decolaram e acionaram a gambiarra, que funcionou pela metade: as rodas caíram, mas a estrutura do trem não, o que tornava a aterrisagem uma tragédia certa. Mas isso era um problema simples para Pangborn: voando a 14 mil pés sobre o mar,  tirou os sapatos, apanhou algumas ferramentas, saiu do avião e, trabalhando em cima dos suportes de cada asa, soltou a estrutura, que caiu ao mar.
O voo ocorreu sem novidades, e depois de 40 horas o Miss Veedol passou a sobrevoar o território americano. Pangborn (na foto, de chapéu, com Herndon à sua direita) resolveu mudar o destino: ao invés de ir a Seattle, voou mais uma hora e foi a Wenatchee, no estado de Washington, onde passara a infância e onde ainda vivia sua mãe. Ali, pousou de barriga, tendo o avião sofrido apenas pequenos danos.

Voos sem escala entre o Japão e os Estados Unidos voltaram a acontecer apenas depois da 2ª Guerra Mundial. Pangborn morreu em 1958, após ter voado mais de 24 mil horas como piloto do correio aereo, da RAF durante a 2º Guerra e de testes.